A Confraria Marítima de Portugal – Liga Naval Portuguesa reuniu no Minho
12/05/2023
Sob a legenda “Minho é Mar”, a Confraria Marítima de Portugal – Liga Naval Portuguesa reuniu os seus associados no Norte do País, num programa que possibilitou contactos com a indústria naval, centros formação náutica juvenil e investigação científica marinha.

O encontro, que decorreu nos dias 14 e 15 de abril, reuniu cerca de trinta associados e convidados, entre os quais o Almirante Alexandre da Fonseca, fundador da associação e atual presidente da mesa da A.G., o Almirante António Dionísio, presidente da direção, e o Capitão da Marinha Mercante, Joaquim Monteiro Marques, ele próprio vice-presidente da direção e, por coincidência, último comandante do Navio-Hospital GIL EANNES.

Na sexta-feira, os membros da Confraria Marítima foram acolhidos nas instalações do estaleiro da Vanguard Marine Lda, no parque industrial de Vila Nova de Cerveira. A empresa é projetista e fabricante de embarcações semirrígidas profissionais, tarefas que desenvolve sob a responsabilidade dos Drs. Armando de Santiago e José Abeijón, que acompanharam os visitantes na visita aos vários espaços fabris, e lhes apresentaram os projetos em curso e os planos de expansão. Para além de variadas embarcações para empresas marítimo-turísticas e forças militares e policiais, em diversas fases de construção e montagem, chamou a atenção uma embarcação ambulância com cerca de 12 metros de comprimento.

No sábado, com o apoio da Câmara Municipal de Viana do Castelo e acompanhados pela Dra. Célia Vital, realizou-se uma visita guiada aos quatro equipamentos de formação náutica de Viana, verdadeiro exemplo nacional de aposta no desenvolvimento da náutica de recreio e dos desportos náuticos enquanto componentes relevantes para o reforço da identidade como “Cidade da Náutica do Atlântico”. O programa iniciou-se no Centro de Alto Rendimento de Surf, no Cabedelo, seguiu depois para o Centro de Canoagem, na margem Sul do rio Lima, passou pelo Centro do Remo, que impressionou, tanto pelo projeto arquitetónico, como pelo conteúdo técnico de equipamentos e embarcações, e terminou no Centro de Vela. Em todos constatámos uma notória atividade de formação e treino.
Com estas valências, Viana do Castelo lançou em 2013 o programa “Náutica nas Escolas”, o qual permite, anualmente, de forma curricular, levar mais de 2.000 alunos a praticarem gratuitamente náutica, incluindo os alunos com necessidades especiais.

Neste contexto, sobre o lema o “Oceano nos une”, Viana do Castelo já acolheu os Jogos Náuticos Atlânticos, evento desportivo de alto nível competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas diferentes regiões do Atlântico, promovendo a náutica, popularizando os desportos náuticos e incentivando intercâmbios de experiências, em suma, contribuindo para uma Europa marítima mais unida e coesa.

Por tudo isto, fez todo o sentido a Confraria Marítima – Liga Naval Portuguesa observar de perto esta verdadeira referência nacional que resulta da cooperação estratégica entre o Município, os agrupamentos escolares e os clubes náuticos locais.

Ainda antes do almoço, houve tempo para uma passagem pelo Navio-Hospital Museu GIL EANNES, local onde o sentimento caiu fundo no coração de todos os visitantes, e em particular do vice-presidente da Confraria Marítima (ver nota).

À hora de almoço, no restaurante do novíssimo hotel AP Dona Aninhas, decorreu a palestra sobre “A Química Escondida dos Oceanos”, pelo Prof. Dr. Pedro Leão, coordenador da linha temática de Biotecnologia Marinha do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto. Com uma notável capacidade comunicacional, o orador conseguiu captar o interesse e transportar a audiência através da exploração dos oceanos, em particular, das descobertas mais recentes de moléculas de origem natural com aplicação farmacológica, que se escondem nos organismos que os habitam, desde as águas costeiras até às fossas abissais mais profundas.

Terminado o almoço realizou-se a já tradicional cerimónia solene de entronização de novos confrades, que juraram dar o seu melhor para que o Mar seja um verdadeiro desígnio nacional!
Foram acolhidos na Confraria Marítima de Portugal – Liga Naval Portuguesa a Dra. Helena Gomes Fernandes, Diretora Comercial, Marketing e Comunicação para as áreas de negócio do Douro, Leixões e Viana do Castelo; o Dr. Armando Emílio Andrade de Santiago Lopes, Membro do Conselho de Administração da Vanguard Marine; e o Dr. Jose Ignacio Fernandez Abeijón, Membro do Conselho de Administração da Vanguard Marine.

O programa encerrou com uma visita guiada ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no Monte de Santa Lúzia, na qual foi possível conhecer a história do local e da construção que ali está edificada, pela palavra do Dr. Henrique Costa, técnico superior da área cultural da CM de Viana do Castelo.

Nota do Vice-presidente:
Último Comando do N/M – Hospital GIL EANNES
A dramática agonia do nosso Navio Hospital GIL EANNES, único no Mundo com as características que o definem, só teve fim em 1998, quando a Autarquia e População da Cidade – Porto de Viana do Castelo, alertadas in extremis pela Associação SOS GIL EANNES, da qual fui associado, finalmente e ao cabo de mais de 10 anos de imobilização e degradação do navio na Doca do Espanhol, em Alcântara, e ulterior venda como sucata à firma Baptista e Irmãos em Agosto de 1997, foi desta empresa resgatado em Janeiro de 1998 pela Comissão Pró GIL EANNES então constituída, também pela autarquia de Viana do Castelo.

Em 18 de Dezembro de 1987 o Gil EANNES havia deixado de ser classificado de Navio Mercante e passara ao Tráfego Local de Lisboa com o nº de registo LX-181-AL, e desde 1995, e até Outubro de 1996 foi seu Comandante, o Capitão de Marinha Mercante Lázaro do Carmo Delgado.

A partir dessa altura, a pedido da Empresa então proprietária do navio, a ALTUREM SA, e até à data da sua venda para a sucata, fui realmente o seu último Comandante, pro bono, e foi com muito orgulho, mas com todo o desgosto, que desembarquei quando partiu para o seu aparente último destino – a sucata.

Não fora a nossa Associação SOS GIL EANNES, que durante os anos de 1997 e 1998 tudo fez e contribuiu para salvar o navio, cumulativamente com a ulterior acção pública da Polis Vianense, que subsidiou o seu resgate, e não teríamos hoje o orgulho de ter, como navio-museu, documento histórico, residência de alunos, polo de aprendizagem e verdadeira Escola-Viva, o nosso GIL EANNES!

Joaquim Monteiro Marques
Capt. M.ª Mercante