O almoço de Natal, o Comandante e a bola
O almoço de Natal, o Comandante e a bola 30/11/2022 Tudo quanto sei sobre a moral e as obrigações do homem devo-o ao futebol Albert Camus, guarda-redes do Racing Universitário da Argélia, e Prémio Nobel da Literatura de 1957 O campo de futebol ocupava bem mais de metade do largo principal da Vila, encimado num dos topos pelo edifício da Câmara, e no outro pelo palacete do Comandante. E por cima deste, e ao longe, a silhueta majestosa do castelo medieval. Ligeiramente inclinado para o lado da edilidade, o campo ficava metido numa cercadura de edifícios, de onde se destacavam as casas mais bonitas da terra. Era ali, que ao final da tarde, se disputavam os jogos de futebol entre duas turmas do Liceu, que não ficava muito longe, e acima de tudo, o grande jogo da manhã do Dia de Natal. Com a bola novinha, que um qualquer dos jogadores tinha recebido na noite anterior. As balizas tinham as dimensões algo vagas, sempre avaliadas por excesso pela equipa que atacava, e por defeito pela que defendia, e nos jogos mais renhidos chegavam a incluir as paredes dos edifícios, e nas finais, os vidros das janelas. E principalmente, o muro enorme, longo e alto da casa do Comandante. Sem filhos, tal como a única irmã, raramente estava em casa, porque habitava numa cabana rústica e confortável, no meio dos seus imensos pomares herdados, e que o colocava a salvo da presença da irmã. Eram iguais. O que, se no Comandante dava um homem que nem sequer era feio, mas com um corpo atarracado em forma de barril, encimado por uma cabeçorra sempre a exigir tamanhos extras de chapéus, na irmã produzia um aspeto medonho. Separava-os o bigode. Que o Comandante usava farto e hirsuto, e a irmã na forma … Continue reading “O almoço de Natal, o Comandante e a bola”